Obituarios de un no-país — video a Alejandro Aguilar

domingo, 8 de febrero de 2009

Poemas de Filomena Embaló*


DETALHES


Talho e retalho

O manto da vida

Detalhes colados

Em sincronias

De tempos e espaços

Cores e cheiros

Gestos e feitos


Talho e retalho

Pedaços de vida

Daqui

De acolá

E de além mais

Detalhes perdidos

Achados no tempo

Em espaços deixados

Na senda da vida


Colo retalhos

Pedaços de vida

Memórias do tempo

Caminhos cruzados

Detalhes e atalhos

Que fazem a vida!


DESILUSÃO


Abate sobre mim

O peso angustiante

De esperança perdida

Da crença desmentida


Desmorona-se o mundo de sonhos

Alicerçado em ideias juvenis

Que o correr da vida

Transformou em utopia


Nego-me a engolir

O nó da desilusão

Que me estrangula

Me sufoca...


Nego a entregar-me

A esse pranto vencido

Que me invade o peito

Me deixa muda

Estupefacta

Impotente!


Reservo-me o direito de acreditar

Que se sonho existe

Se sonho existe

É o pesadelo em que me encontro!



OS MESTRES DO MUNDO


Vieram

Levaram tudo

O sonho

A esperança

A vida

Até a realidade varreram

E na azáfama da fuga

O vazio arrancaram

Com medo que engendrasse

Os genes da vida

A luz

E os seus gestos

Denunciassem


Eles...

Os mestres do mundo

Afogaram o sonho

Enforcaram a esperança

Apagaram a vida

Com um sopro

Um estalar de dedos

Um sacudir de ombros altivo...


Senhores de todos os

Destinos

Intocáveis

Nas suas torres de cristal

Roubadas ao suor alheio

Vieram

Levaram tudo

O riso

O pranto

O fôlego

Até os rostos desfigurados

Pela dor

E na azáfama da fuga

Os olhos arrancaram

Para que não os vissem

E os condenassem


Eles...

Os mestres do mundo

Prenderam o riso

Amarraram o pranto

Asfixiaram o fôlego

Num gesto louco

De um estalar de chicote

O olhar altivo...


Deuses do universo

Senhores de todos os

Destinos

Decidindo a vida e a morte

Vieram

Levaram tudo

A dignidade

A modéstia

A honestidade

Até o pensamento

Esvaziaram

E na azáfama da fuga

A consciência perderam

Por não lhe suportarem o peso


Eles...

Os mestres do mundo

Violaram a dignidade

Enterraram a modéstia

Venderam a honestidade

Num abrir e fechar de olhos

Como num truque de magia

O semblante altivo...


Senhores absolutos

Inverteram a escala de valores

À luz da própria imagem

Vieram

Levaram tudo

O pão da boca do faminto

O tecto do desabrigado

Até a História apagaram

Deixando apenas no seu rasto

Humilhação

Impotência

Revolta

Que o povo na dor afoga

Por iguais armas não possuir

Para combater tal violência

Que de igual

Só tem o ódio

Fruto mudo

Da fúria destrutiva!


Eles...

Os mestres do mundo

Criminosos impunes

De consciência tranquila

Barriga farta de ganância

O peito inchado de razão

De uma legitimidade usurpada

Inconscientes da própria ignorância!!!


Esperança acalentaste

Num futuro risonho

Terra-Mãe – Filha de África

Em tuas entranhas

Ressuscitaste o sonho

Razão do teu viver

Armaste teus filhos

Rumo à liberdade

Acreditaste na vitória

Mas os ventos mudaram


Os homens também...


Sem escrúpulos nem pejo

O teu sonho derrubaram

Num cíclico jogo de armas

Honrado seja o teu nome

Oh! Pátria mil vezes violada


De onde vem tanto ódio

Entre teus filhos amados?

Corre o sangue derramado

Abrem feridas mal saradas

Bate em teu peito a chamada

Recobre as forças Terra-mãe

Ainda é longa a caminhada

Levanta-te Guiné e desenterra o teu sonho!


QUISERA…


Quisera meu amor...

Partir para longe

Esquecer a mágoa

Do teu vazio

Apagar a memória do tempo

Do tempo relâmpago

Do tempo de um sonho...


Quisera meu amor...


Despertar na outra margem

E crer que o passado

Não passou de uma miragem...


Quisera meu amor...

Amordaçar meu coração

Estrangular esse amor

Que me consome

Renitente

Obcecante

Algoz da minha alma

Amarra da minha memória

A um passado

Sem presente

Nem futuro!


Quisera meu amor...

Quisera...

Quisera...

Mas onde buscar a força

Se meu corpo implora o teu

E minha boca reclama

O beijo da despedida?


*Filomena Embaló


Novelista y poeta, de profesión economista. Nació en Angola en 1956, pero es guineense de corazón y opción. Llega con sus padres a Guinea-Bissau en 1975.


Graduada en Francia en Ciencias Económicas. Ocupó cargos en la administración pública de su país y en el exterior. Actualmente vive en París, allí trabaja en una organización intergubernamental.
Tiene publicados numerosos artículos literarios y de economía.


Entre sus obras tenemos la novela "TIARA", editada en 1999 y el poemario "Coracao Cativo", 2005.
Todos los poemas pertenecen a este libro.