DETALHES
Talho e retalho
O manto da vida
Detalhes colados
Em sincronias
De tempos e espaços
Cores e cheiros
Gestos e feitos
Talho e retalho
Pedaços de vida
Daqui
De acolá
E de além mais
Detalhes perdidos
Achados no tempo
Em espaços deixados
Na senda da vida
Colo retalhos
Pedaços de vida
Memórias do tempo
Caminhos cruzados
Detalhes e atalhos
Que fazem a vida!
DESILUSÃO
Abate sobre mim
O peso angustiante
De esperança perdida
Da crença desmentida
Desmorona-se o mundo de sonhos
Alicerçado em ideias juvenis
Que o correr da vida
Transformou em utopia
Nego-me a engolir
O nó da desilusão
Que me estrangula
Me sufoca...
Nego a entregar-me
A esse pranto vencido
Que me invade o peito
Me deixa muda
Estupefacta
Impotente!
Reservo-me o direito de acreditar
Que se sonho existe
Se sonho existe
É o pesadelo em que me encontro!
OS MESTRES DO MUNDO
Vieram
Levaram tudo
O sonho
A esperança
A vida
Até a realidade varreram
E na azáfama da fuga
O vazio arrancaram
Com medo que engendrasse
Os genes da vida
A luz
E os seus gestos
Denunciassem
Eles...
Os mestres do mundo
Afogaram o sonho
Enforcaram a esperança
Apagaram a vida
Com um sopro
Um estalar de dedos
Um sacudir de ombros altivo...
Senhores de todos os
Destinos
Intocáveis
Nas suas torres de cristal
Roubadas ao suor alheio
Vieram
Levaram tudo
O riso
O pranto
O fôlego
Até os rostos desfigurados
Pela dor
E na azáfama da fuga
Os olhos arrancaram
Para que não os vissem
E os condenassem
Eles...
Os mestres do mundo
Prenderam o riso
Amarraram o pranto
Asfixiaram o fôlego
Num gesto louco
De um estalar de chicote
O olhar altivo...
Deuses do universo
Senhores de todos os
Destinos
Decidindo a vida e a morte
Vieram
Levaram tudo
A dignidade
A modéstia
A honestidade
Até o pensamento
Esvaziaram
E na azáfama da fuga
A consciência perderam
Por não lhe suportarem o peso
Eles...
Os mestres do mundo
Violaram a dignidade
Enterraram a modéstia
Venderam a honestidade
Num abrir e fechar de olhos
Como num truque de magia
O semblante altivo...
Senhores absolutos
Inverteram a escala de valores
À luz da própria imagem
Vieram
Levaram tudo
O pão da boca do faminto
O tecto do desabrigado
Até a História apagaram
Deixando apenas no seu rasto
Humilhação
Impotência
Revolta
Que o povo na dor afoga
Por iguais armas não possuir
Para combater tal violência
Que de igual
Só tem o ódio
Fruto mudo
Da fúria destrutiva!
Eles...
Os mestres do mundo
Criminosos impunes
De consciência tranquila
Barriga farta de ganância
O peito inchado de razão
De uma legitimidade usurpada
Inconscientes da própria ignorância!!!
Esperança acalentaste
Num futuro risonho
Terra-Mãe – Filha de África
Em tuas entranhas
Ressuscitaste o sonho
Razão do teu viver
Armaste teus filhos
Rumo à liberdade
Acreditaste na vitória
Mas os ventos mudaram
Os homens também...
Sem escrúpulos nem pejo
O teu sonho derrubaram
Num cíclico jogo de armas
Honrado seja o teu nome
Oh! Pátria mil vezes violada
De onde vem tanto ódio
Entre teus filhos amados?
Corre o sangue derramado
Abrem feridas mal saradas
Bate em teu peito a chamada
Recobre as forças Terra-mãe
Ainda é longa a caminhada
Levanta-te Guiné e desenterra o teu sonho!
QUISERA…
Quisera meu amor...
Partir para longe
Esquecer a mágoa
Do teu vazio
Apagar a memória do tempo
Do tempo relâmpago
Do tempo de um sonho...
Quisera meu amor...
Despertar na outra margem
E crer que o passado
Não passou de uma miragem...
Quisera meu amor...
Amordaçar meu coração
Estrangular esse amor
Que me consome
Renitente
Obcecante
Algoz da minha alma
Amarra da minha memória
A um passado
Sem presente
Nem futuro!
Quisera meu amor...
Quisera...
Quisera...
Mas onde buscar a força
Se meu corpo implora o teu
E minha boca reclama
O beijo da despedida?
Novelista y poeta, de profesión economista. Nació en Angola en 1956, pero es guineense de corazón y opción. Llega con sus padres a Guinea-Bissau en 1975.
Graduada en Francia en Ciencias Económicas. Ocupó cargos en la administración pública de su país y en el exterior. Actualmente vive en París, allí trabaja en una organización intergubernamental.
Tiene publicados numerosos artículos literarios y de economía.
Entre sus obras tenemos la novela "TIARA", editada en 1999 y el poemario "Coracao Cativo", 2005.
Todos los poemas pertenecen a este libro.